"Eu tentei o suicídio”, desabafa Vana Lopes, vítima do ex-médico Roger Abdelmassih

  • Por Jovem Pan
  • 08/10/2015 14h05
Bruna Piva / Jovem Pan <p>Vana Lopes no Pânico</p>

Depois de ser procurado internacionalmente por quatro anos, o médico Roger Abdelmassih foi preso em 2014 e acusado há mais de 200 anos de prisão. Especializado em processos de inseminação artificial, ele recebeu a primeira denúncia em delegacia de Vana Lopes, um a de suas ex-pacientes. Nesta quinta-feira (8), ela participou do “Pânico”, quando contou a história que, segundo ela, até hoje é difícil não despontar lágrimas: “eu tentei o suicídio”.

“Eu comecei como todas as pacientes dele, com aquele sonho de ter uma criança. Queria ser mãe te qualquer jeito. Fui fazer o tratamento e, no momento da fertilização, ele colocava um remedinho e falava que era para a gente relaxar”, lembra Vana. “Naquele momento ele dava a laçada. Você saía de lá e só pegava o dinheiro e entregava. Ele era encantador com o casal, tinha todo o tempo do mundo em uma conversa sedutora. Ele acaba descobrindo quanto você ganhava para ver quanto seria o preço”. Ao conversar com as outras vítimas, ela disse ter descoberto ainda que, além dos crimes sexuais, ele cobrava um preço diferente para cada casal, dependendo da renda.

“Você podia nem ter o órgão genital, mas saía de lá pai. É o que ele falava. Então ele encantava mesmo, convencia o casal a dar tudo. No meu caso a gente deu o dinheiro do apartamento na praia. ‘Você prefere ver o mar ou o sorriso das crianças’, ele dizia”, lembra. “Aí no momento da fertilização ele fazia isso”, conta ela, se referindo ao estupro.

Segundo a ex-paciente, Abdelmassih dava um pré-anestésico que a fazia dormir e, durante esse efeito do remédio, o crime era cometido. “O que aconteceu é que ele dava a mesma dosagem as três vezes, então na terceira vez o remédio não durou o efeito e acordei bem no meio do ato sexual. Eu acordei como alguém acordava de anestesia, dopada e ele tinha ejaculado e eu estava com dores. Eu não estava mais dormindo, não estava com alucinações”, desabafou. “Ele disse que precisava tomar esse remédio para que o útero não ficasse contraído na hora de receber os embriões”.

Ainda de acordo com ela, uma das maiores dificuldade foi na hora de fazer a denúncia. Ela disse ter ido direto fazer a denúncia para as autoridades competentes, mas sofreu também com a desconfiança em relação ao que tinha acontecido. “Toda a vítima de violência tem esse problema na delegacia ou até com a família. Porque é um crime oculto, então tem essa desconfiança. Já me sugeriram de gravar, mas como eu ia gravar uma coisa dessa? Teve maridos que bateram, na mulher, porque não acreditaram, então teve várias situações”, comenta.

“Os maridos eram vítimas também, porque ele foi ali para ter um filho. O Roger violentou o casal, o amor. Ele violentou o núcleo familiar”, disse. “Como legítima defesa, você pode até matar. Eu fiquei muito abalada, cheguei a 140kg e em depressão profunda. Eu me imaginava perseguindo ele fisicamente”, desabafa. “Eu tentei o suicídio. Na hora que ele foi solto eu entrei em desespero mesmo. Tive uma síndrome de pânico e tentei o suicídio com remédio de dormir. Não sei se foi suicídio ou uma vontade de dormir para sempre por causa daquela injustiça”.

E foi aí que ela mesma decidiu localizar o ex-médico para conseguir que a justiça fosse feita. “A caçada eu fiz praticamente sozinha. As histórias delas me fortaleciam de certa forma, porque se eu não buscasse justiça para mim eu buscava por elas”, explica Vana. “Eu localizei todos os familiares, amigos, fiz uma rede de informantes que me ajudaram e hoje”, acrescenta.

Ela inclusive lembrou que foi uma funcionária dele que degringolou o caso. “Uma funcionária entregou ele no Ministério Público, dizendo que viu ele agarrando uma paciente. Ele tentou desmoralizar essa funcionária, dizendo que ela estava extorquindo dinheiro, mas eu sabia que estava falando a verdade. Aí eu descobri que não era a única. Eu achava que eu era a azarada, tipo ‘por que eu?’”.

“Hoje eu digo que ainda tenho essa cicatriz, porque não tem jeito. Quem sofre de violência sexual sabe. Mas eu consegui mudar minha cicatriz de lugar, para conseguir ajudar outras vítimas”.

“Eu estou em uma situação hoje em que eu aprendi a falar ‘vitimez’, que pe diferente de português, porque eu converso com vítimas de todos os tipos de abuso. Não tem como eu apagar que eu mostrei meu rosto. Mas eu ouço muito drama, só se eu fosse muito insensível eu não ajudaria essas pessoas”, comenta. “Não se trata de obsessão, é uma questão de justiça na sua totalidade”, disse ela, que tem dez filhos desaparecidos, além dos de outras vítimas de Roger Abdelmassih.

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